Mirtilos

Em Portugal existem várias espécies de mirtilos silvestres (o Vaccinium Myrtillus) e pode ser encontrado na Serra do Gerês, em Trás-os-Montes e na Serra da Estrela. O Vaccinium Uliginosum está limitado à Serra da Estrela. É muito raro, ao longo dos anos foi fortemente ameaçado pelos fogos florestais e pelo pastoreio. Na Ilha da Madeira encontramos o Vaccinium Padifolium, localmente apelidada de Uveira, finalmente, no arquipélago dos Açores o Vaccinium Cylindraceum também conhecido por uva-do-mato.

 

 

Estas plantas são arbustos de pequeno porte que crescem em alguns sub-bosques em zonas de microclima muito seletivo das florestas temperadas do continente Europeu. Vive em regiões nas quais o Inverno é rigoroso, porque necessita em média 500 horas entre os 10 e 12ºC de temperatura por ano. Daí a enorme dificuldade em cultivá-lo na maior parte do território.

Há muitas espécies de mirtilo, sendo que as principais qualidades com expressão comercial são divididas em três grupos, de acordo com o genótipo, hábito de crescimento, tipo de fruto produzido e outras particularidades. As práticas de manuseamento são diferenciadas para cada um dos grupos, desde a produção de mudas até a colheita e utilização dos frutos.

Highbush (mirtilo gigante) (tetraploide: diz-se da fase do núcleo (célula ou organismo), em que se verifica um número de cromossomas igual a quatro séries de cromossomas. Ou seja, para cada cromossoma existem três réplicas, perfazendo 4 no total)

É o procedente da costa oeste da América do Norte. A sua produção, dentre os demais grupos, é a de melhor qualidade, tanto em tamanho quanto em sabor dos frutos. A principal espécie deste grupo é Vaccinium Corymbosum L., ainda que as espécies V. Australe e V. Darrowi possam ser usadas para fins de melhoramento genético.

Rabbiteye (hexaplóide: Diz-se das células que têm seis vezes o número básico (haplóide) de cromossomas, no seu núcleo)

É oriundo do sul da América do Norte. Compreende a espécie Vaccinium Ashei Reade.

Em relação ao grupo anterior, produz frutos de menor tamanho e de menor qualidade. Apresenta maior produção por planta e seus frutos têm uma maior conservação em pós-colheita. Apresenta maior importância comercial em regiões com menor disponibilidade de frio, por causa da sua tolerância a temperaturas mais elevadas e à deficiência hídrica.

Em "Rabbiteye", a propagação é preferencialmente realizada por estacas semilenhosas ou herbáceas, uma vez que o enraizamento obtido com estacas lenhosas é baixo.

Adicionalmente, a cultura de tecido pode superar a baixa eficiência dos métodos tradicionais de propagação desta espécie.

Lowbush (Diploide: diploides são aquelas cujos cromossomas se organizam em pares de cromossomas homólogos, e assim, para cada característica existem pelo menos dois genes, estando cada um deles localizado num cromossoma homólogo)

Tem hábito de crescimento rasteiro e produz frutos de pequeno tamanho, cujo destino é a indústria processadora.

A planta de porte arbustivo ou rasteiro e caducifólia. O fruto é uma baga de cor azul escura, de formato achatado, coroada pelos lóbulos persistentes do cálice e com aproximadamente 1 a 2,5cm de diâmetro e 1,5 a 4g de peso. Apresenta em seu interior muitas sementes e tem sabor doce- ácido a ácido.

A propagação de mirtilo pode ser realizada por sementes, rebentos ("suckers") e por estacas. A propagação por sementes é útil no desenvolvimento de novas variedades, mas caracteriza-se por induzir um longo período improdutivo e por produzir plantas diferenciadas da planta matriz em muitas características.

A espécie Vaccinium Corymbosum, divide-se em dois grupos e possui variadíssimas cultivares. São: Northern Highbush e Southern Highbush.

Northern Highbush: É o grupo mais cultivado em todo o mundo, necessitando de muitas horas de frio para quebrar a dormência durante o Inverno e entrar em produção. O intervalo de horas de frio vai de 700 a 1000 horas abaixo dos 7ºC.

DUKE.
É uma das melhores plantas de mirtilo usadas pelos produtores de mirtilo no centro-norte de Portugal, sendo muito produtivas. Este arbusto cresce vertical entre 1,5 a 2,5 metros, e os ramos pendem em direcção ao chão devido ao peso do fruto. O seu fruto é grande calibre, baga com textura resistente, azul clara e de alta qualidade, de sabor doce, de maturação precoce, a colheita é feita entre meados de Maio e início de Junho, apesar da sua floração tardia.
O Duke floresce tarde mas a maduração é precoce, protegendo-se a floração das geadas tardias de Primavera. Os ramos quando possuem muita produção tendem a vergar para o solo. O fruto possui um tamanho médio a grande apresentando uma pequena cicatriz, que amadurece durante um período relativamente curto. Retém a sua qualidade fresca por muito mais tempo que a maioria das variedades.
É reconhecida pela sua elevada produtividade de frutos de dimensão grande e qualidade uniforme. O sabor dos seus frutos é suave com tendência a melhorar quando armazenados no frio.
É um dos mais pesados, a maioria dos produtores colhe 4 a 5 quilos de mirtilos por arbusto quando adulto.

DRAPER.
Variedade protegida na U.E. adquirida pelo programa de melhoramento da Universidade de Michigan (USA). Apesar de o arbusto ser compacto, não muito alto, a sua produtividade é soberba mesmo em plantas jovens. A produção desta espécie encaixa perfeitamente com o final da temporada de produção da espécie Duke.

Esta variedade é indicada para zonas com solos ligeiros ou arenosos para produzir o fruto de meia estação de maior qualidade. Adapta-se bem à colheita mecanizada.
Apesar de ser uma variedade recente no mercado, é já uma das mais admiradas por produtores e consumidores de todo o mundo. São muito produtivas, apresentando frutos grandes e de elevada qualidade, entram em produção muito rapidamente. Os seus frutos apresentam excelentes características de conservação da qualidade, mesmo após algum tempo na prateleira.
A sua colheita é de meia estação, é muito fácil e rápida devido ao seu aspecto mais compacto.


SPARTAN.
Esta variedade, de maturação semi-precoce, manifesta uma floração tardia que a defende das geadas. Preferindo solos ligeiros e bem drenados, estas plantas produzem frutos de tamanho bastante grande e sabor muito atrativo para o consumo em fresco. É também muito apreciada pelos pequenos produtores familiares.
É uma das cultivares mais atrativas, fácil de colher e de sabor muito agradável.
É particularmente rigorosa nas condições do solo, necessitando solos bem drenados e com elevado teor de matéria orgânica. A exposição solar com bastante incidência de luz também é muito importante para esta cultivar. Produz fruto grande a muito grande, firme com cicatriz pequena e necessita apenas de duas colheitas.

BLUEGOLD.
Cultivar compacta e exemplar para o paisagismo. Maturação do fruto muito aproximada facilitando a sua colheita. Cores outonais de amarelo dourado criando uma paisagem bonita. Arbusto compacto e redondo, com 1m de altura aproximadamente. Fruto muito firme, de bom tamanho e sabor, é fácil de colher.

Variedade de meia estação, das mais resistentes a climas com invernos muito rigorosos. A sua época de produção é muito semelhante à da variedade Bluecrop, fornecendo uma elevadíssima produção de fruto e de elevada qualidade. A produção é muito concentrada no tempo.

BLUECROP.
Este arbusto de mirtilo cresce vertical entre 1,5 a 2 metros, é vigoroso e aberto, com muitos lançamentos novos na coroa.
O seu fruto é grande e de sabor muito doce, a colheita é feita entre meados de Junho a meados Agosto.
Esta variedade é considerada uma das melhores cultivares em termos de adaptabilidade, pelo longo período de produção com elevado rendimento e boa resistência a doenças.
É resistente à seca e fácil de produzir. São plantas extremamente fáceis de cultivar e resistentes, sem grandes problemas na sua manutenção em campo.
É considerada uma das melhores cultivares na produção de fruta, consistente nos rendimentos, produz mirtilos de calibre grande a muito grande, e de elevada qualidade. Doces e aromáticos, tipo híbrido americano.
Apesar de ser uma variedade antiga, é considerada a líder dos mirtilos, tendo sido de longe a variedade mais difundida a nível mundial nos últimos anos.
O fruto pode resultar muito ácido e ter problemas de coloração se for colhido precocemente, pelo que deverá amadurecer bem na planta.

CHANDLER.
Foi inserida em Portugal muito recentemente.
É a variedade com os frutos de maior dimensão com cerca de 20mm de diâmetro. Apresenta uma maturação média a ligeiramente tardia. Além do calibre, os frutos são igualmente apreciados pelo seu sabor e pelo facto da sua maturação se arrastar durante 4 a 6 semanas, o que permite uma colheita faseada dos mesmos. O seu mercado por excelência é o do consumo em fresco.
Uma das razões do seu grande calibre é o largo período de maturação, no qual o período de
 colheita ronda 5-6 semanas. A produtividade é muito elevada. Recomenda-se para zonas com invernos não muito frios, mas com horas de frio suficientes para o cultivo de Northern Highbush.

LEGACY.
Quando o Inverno é ameno as plantas mantêm algumas folhas durante a estação. Esta cultivar tarda a entrar em produção durante os primeiros anos, mas é uma das mais produtivas quando os arbustos atingem a maturação, apresentando um porte vigoroso. Floresce muito cedo para regiões onde a Primavera é fria e sujeita a geadas. O fruto é de tamanho médio e firme, de cor azul ceroso, e muito apreciado pelo seu sabor.

O fruto é dos mais valorizados no mercado.
É bom para a colheita mecanizada já que se liberta com facilidade quando está maduro, mantendo-se o verde na planta.
Esta variedade, de colheita tardia, adapta-se facilmente a diferentes condições de instalação, sendo recomendada para consumo em fresco e para a indústria. A sua entrada em produção é ligeiramente mais lenta, no entanto é compensado mais tarde com rendimentos muito elevados após entrada efetiva em produção. Apresenta, ainda, a particularidade de em certos locais mais amenos poder manter parte da sua folhagem durante o inverno.
É muito sensível às baixas temperaturas. Não aconselhável para zonas com invernos rigorosos.

LIBERTY.
Variedade tardia, com o início da sua colheita aproximadamente uma semana antes do cultivar Elliott.
Destaca-se pela maturação muito concentrada, podendo concluir a sua colheita em 2 ou 3 passagens.
O fruto possui uma forma ligeiramente achatada característica, uma cor azul claro, muito firme e de excelente sabor. É uma variedade muito vigorosa, com um crescimento muito rápido, o que a leva a bons números de produção muito rapidamente.
Deverá existir um perfeito controlo de fertilização para que o seu crescimento seja equilibrado entre a planta e a sua raiz.

ELLIOTT.
Variedade de frutificação muito tardia, durante o mês de Setembro, permite arrastar o mercado em fresco até esta altura.

Os frutos são de tamanho médio a grande, com sabor, e a sua colheita pode prolongar-se durante 3 a 5 semanas, dependendo da localização. A sua conservação pode realizar-se em câmaras frigoríficas durante cerca de 2 meses. O seu crescimento vigoroso requer cuidados especiais de poda.
Em zonas demasiado quentes, o fruto tende a desidratar-se e amolecer com relativa facilidade.

AURORA.
Surge do programa de melhoramento da Universidade de Michigan (USA), e é a variedade de Northern Highbush mais tardia e que permite estender a produção de fruta em fresco. O fruto é de maior calibre que o Elliott, é mais resistente à fissuração (“cracking”) do que a maioria das variedades.

O fruto é algo escuro e pode possuir um sabor demasiado ácido se não for colhido quando está totalmente maduro.

Southern Highbush
Necessitam de menos horas de frio durante o Inverno para quebra de dormência da planta e 
o número de horas difere de cultivar para cultivar. O intervalo varia entre 150 a 600 horas de frio abaixo dos 7ºC.

São aconselhadas para o sul de Espanha, Marrocos, sul de Itália e outros países mediterrânicos.

REBEL.
Variedade obtida do programa de melhoramento pela Universidade da Geórgia (USA).

Apresenta um crescimento vigoroso e precoce, começando a sua produção entre 8 a 10 dias antes da Star.
Fornece bons rendimentos em plantas jovens. O fruto possui bom tamanho, firme e de boa cor azul.
O maior problema desta variedade está no seu sabor que pode ser bastante insípido se amadurecer demasiado na planta.

GOLDTRAUBE.
Esta cultivar de mirtilo tem a sua origem na Europa, tendo surgido na Alemanha em 1960. Resulta do cruzamento entre Vaccinium Corymbosum e Vaccinium Angustifolium.

É bastante produtivo. O arbusto de mirtilo cresce direito entre 1,5 a 2,20 metros. O seu fruto é firme, de alta qualidade e sabor doce, a colheita é feita entre início de Julho a início de Agosto.

OZARKBLUE.
Esta cultivar de mirtilo foi criada em 1996 na Universidade do Arkansas nos Estados Unidos, sendo considerada durante alguns anos uma variedade Southern Highbush.

A descoberta da sua necessidade anual de 800 horas de temperatura inferior a 8ºC deram origem a uma reclassificação desta cultivar, sendo nos dias de hoje considerada uma Northen Highbush.
Ozarkblue é um arbusto de mirtilo muito produtivo, cresce semi-erecto bastante robusta, entre 1,5 a 2 metros. Durante a frutificação os ramos pendem em direcção ao chão devido ao peso do fruto consistente, de alta qualidade com sabor doce ligeiramente ácido.
A colheita é feita entre início de Julho a meados de Agosto.

SUZIBLUE.
É a variedade mais recente obtida pelo programa da Universidade da Geórgia (USA).

Pode considerar-se a versão aperfeiçoada da Star. Os períodos produtivos de ambas são muito equivalentes. Produz melhor, melhora o tamanho do fruto, e requer de mais frio.

PALMETTO.
Variedade obtida pelo programa da Universidade da Geórgia (USA) e sobressai fundamentalmente pelo seu extraordinário e aromático sabor.

A temporada de produção é muito semelhante à Star, produzindo um fruto de tamanho médio e firme.
Recomenda-se esta variedade quando se pretende um fruto fresco de melhor sabor.

O´NEAL.
Variedade de mirtilo que resulta do cruzamento entre Vaccinium Corymbosum e Vaccinium Darrowii. É uma variedade Southern Highbush, implicando a menor necessidade anual de horas de baixas temperaturas, necessitando aproximadamente 600 horas por ano de temperatura inferior a 8ºC.
O arbusto é muito produtivo, cresce semi-erecto irregular entre 1,2 e 1,5 metros. Produz mirtilos grandes, de excelente firmeza, suculentos e doces. A colheita é feita entre meados de Maio a meados Junho.
As cores das suas folhas são de um verde acinzentado que se acentua nos ramos vermelhos. As folhas surgem na primavera.
Adapta-se melhor em solos com pH entre 5.0 e 5.5. É auto-polinizadora e desabrocha durante um longo período. Produz um fruto grande, com cicatriz pequena e firme, sendo a sua colheita concentrada.
Apreciada no mundo por ser o modelo do mirtilo na indústria.

CAMELLIA.
É uma variedade obtida pelo programa da Universidade da Geórgia (USA), sendo caracterizada pelo seu fruto de tamanho uniformemente grande, cor azul clara e excelente sabor.

MISTY.
Reconhecida durante muitos anos pela boa produtividade e qualidade do fruto.

Adapta-se bem a zonas com poucas horas de frio, sendo as necessidades de frio bastante baixas, entre 150 e 300 horas.
A sua produção é potenciada quando instalada com outras cultivares.
O seu principal inconveniente é a sobreprodução, o que leva a afetar muito o tamanho do fruto, a robustez do arbusto, devendo existir bons critérios de poda. O fruto tem um sabor agradável e de cor azul claro. O porte do arbusto é ereto e aberto.
Em regiões de clima ameno mantém as suas folhas durante o Inverno, mas nas regiões frias fica caduca nesta Estação.

BILOXY.
Variedade que se destaca pelo seu porte e produção de fruto de excelente qualidade e sabor, em zonas com 400horas de frio ou mais a sua produção tem sido baixa.

SHARPBLUE.
É uma cultivar forte, que produz muitos caules e tolera uma grande variedade de solos.

Não é auto-polinizadora pelo que deve ser plantada juntamente com outra cultivar para permitir a polinização cruzada.
As suas necessidades em horas de frio são baixas, cerca de 200 horas.
O seu fruto é médio, moderadamente firme com cicatriz razoável. Esta cultivar fica com as 
folhas sempre verdes durante todo o ano.

É uma variedade clássica, substituída muitas vezes por variedades mais recentes.
O seu período de produção é muito amplo.